sábado, 2 de abril de 2011

Retrô-TV - Jornada nas Estrelas - A Nova Geração

Não é possível conversar sobre o impacto das séries de ficção científica na televisão mundial, sem falar sobre Jornada nas Estrelas - A Nova Geração (1987). Sutilmente diferente da série original, dos anos 60, que contra as aventuras e desventuras da tripulação da nave estelar Enterprise com Kirk, Spock e McCoy, a releitura do criador Gene Roddenberry pôde abordar muitos novos temas e mergulhar em ficção científica de muita qualidade. Entre os principais fãs do programa de TV, estava o físico teórico e cosmólogo Stephen Hawking, um dos maiores cientistas da atualidade.

Para falar deste importante assunto, convidei o amigo Roosevelt Garcia, um outro grande apaixonado por séries. Acompanhe o texto preparado por ele sobre Jornada nas Estrelas - A Nova Geração e bom entretenimento!

Texto de Roosevelt Garcia:

Quem é esse careca sentado na cadeira de Capitão? Como ele ousa sentar no lugar mais importante da nave de nome mais sagrado da Federação? Certamente esse pensamento passou pela cabeça de milhões de fãs de Jornada nas Estrelas espalhados pelo mundo, em 1987, quando estreou a herdeira de Kirk e companhia: a ousada Jornada nas Estrelas – A Nova Geração.

Desde o final dos anos 70, trazer as aventuras da Enterprise de volta à TV já estava nos planos de Gene Roddenberry e da Paramount. A nova série, batizada naquela época de Star Trek Phase II, traria a mesma tripulação da missão original, levada ao ar nos anos 60. O ônibus espacial acabara de ser construído, e graças aos fãs da série, acabou sendo batizado de Enterprise. Roteiros foram escritos, alguns até por grandes escritores da série original, como D.C Fontana. Mas, os planos mudaram vertiginosamente graças àquela que muitos consideram a grande rival do Universo Trek. Mudaram por causa de Star Wars.

O longa metragem de George Lucas fez um sucesso estrondoso e inesperado nos cinemas, o que levou a Paramount a abortar a idéia de trazer Star Trek de volta à TV, e lançá-la  como um longa metragem do cinema. Assim, tivemos o primeiro dos filmes com a tripulação original. A série de TV teria que esperar mais um pouco.

Finalmente, quase 10 anos depois, A Nova Geração deu finalmente as caras na telinha. Na timeline de Star Trek, esta série se passa mais ou menos 85 anos depois das aventuras da Enterprise original,  e assim, Gene Roddenberry resolveu ousar na tripulação. Colocou um Klingon na ponte de comando, o que deixaria o Capitão Kirk de cabelos em pé. Colocou também um andróide, ou uma “forma de vida artificial”, e um imediato com a cara do antigo capitão, só pra deixar os antigos fãs mais calmos. Além disso, comandando a nave, deixou um capitão francês com cara e trejeitos de diplomata, especialista em fazer reuniões com a tripulação por qualquer motivo.

A produção da série tinha algumas dificuldades básicas. Se as estórias se passariam quase 100 anos depois de Kirk e Spock, muita coisa deveria ter evoluído tecnologicamente. Gene Roddenberry contratou desde de desenhistas de produção até engenheiros da NASA pra criarem o que seria o futuro do futuro. Assim, surgiram itens que nem sequer eram imaginados na série original, como o processador de alimentos que funciona como um teletransporte, o comunicador em forma de emblema da Frota, e a mais espetacular de todas: o Holodeck, que poderia simular qualquer ambiente, e era usado tanto para treinamento quanto para recreação.

Muitos dos artefatos criados nos anos 60 para a série original não precisaram esperam até o século 23 para serem reais, elas já existem hoje. Mas, infelizmente, o teletransporte e o holodeck, esses vão demorar um pouco ainda.

A série estreou sem muito alarde, e foi a primeira série a ser exibida exclusivamente em syndication, na sua temporada de estréia. Isso significa que nenhuma grande rede nacional exibia a série para todo o país ao mesmo tempo. Os episódios eram exibidos por pequenas emissoras locais, o que acabou se mostrando uma grande idéia. Sendo negociada individualmente com pequenas redes e pequenos patrocinadores, garantiria à série uma boa longevidade.

Infelizmente, pouco se aproveita da primeira temporada. Os personagens ainda estavam sendo delineados, e os roteiros, em sua maioria, eram bem fracos, e até com releituras de episódios da série original. É de se estranhar que a série tenha sobrevivido à primeira temporada. Felizmente sobreviveu.

A partir da segunda temporada, a série ganhou identidade própria, seus personagens principais já não eram sombras da série clássica, tinham vida, sabiam onde iam e porque iam. Até o comandante Riker, contratado porque se parecia com o capitão Kirk, foi desvinculado dessa imagem por uma protuberante barba, e finalmente ele poderia ser ele mesmo. Os roteiros melhoraram significativamente, mesmo aquele reaproveitado de um episódio não filmado da “falecida” Star Trek Phase II. Nem a grave de roteiristas naquele ano comprometeu a qualidade das estórias. São dessa temporada os primeiros episódios de sagas importantíssimas na série toda, como a da evolução dos Borgs, e a da honra do Tenente Worf, estórias complexas divididas ao longo dos sete anos da série, que devem ser devoradas por qualquer fã de uma boa ficção científica.

Nos anos que se seguiram, a série teve altos e baixos, muito mais altos do que baixos, pra alegria dos fãs.

No último episódio do terceiro ano, “O Melhor de Dois Mundos”, a série inovou mais uma vez: terminou o episódio com um cliffhanger, ou seja, sem uma conclusão, deixando para o primeiro episódio da temporada seguinte a resolução da estória. Quem assistiu na época, teve que esperar quase 6 meses pra ver o final. Isso acabou se repetindo nas outras temporadas, e depois foi imitado por diversas outras séries, até hoje.

Preparei uma pequena lista de episódios “mais que imperdíveis” ao longo de toda a série, mas recomendo altamente que você veja TODOS os episódios. Confira a seguir:

Ano 1:
ep 13 - "Datalore" - primeira aparição do "irmão" do Data. É importante porque ele volta no decorrer da série
ep 14 - "11001001" - os seres "binários" raptam a Enterprise
ep 23 - "Skin of Evil" - morte da Tasha Yar (no episódio anterior Symbiosis, ela dá um tchauzinho pra câmera na última cena em que ela aparece)


Ano 2:
ep 34 - "A Matter of Honor" - Riker faz um intercâmbio, servindo como primeiro oficinal numa nave Klingon
ep 35 - "The Measure of a Man" - Data é posto num tribunal para provar que é mais do que uma máquina
ep 37 - "Countagion" - Um vírus de computador pode provocar a destruição da Enterprise
ep 39 - "Time Squared" - Um Picard do futuro aparece na nave, depois que sua Enterprise foi destruída

Ano 3:

ep 49 - "Evolution" - Wesley desenvolve nano-robôs, que se tornam uma nova forma de vida
ep 52 - "Who Watches the Watchers?" - Picard é confundido com Deus por uma colônia de humanóides observados pela Federação
ep 55 - "The Enemy" - Geordi fica preso num planeta junto com um romulado, e eles têm que se aliar pra sobreviver (parecido com o filme Inimigo Meu)
ep 63 - "Yesterday´s Enterprise" - A Enteprise C aparece numa fenda espacial, e todo o tempo presente é mudado. Tasha Yar não morreu,por exemplo
ep 64 - "The Offspring" - Data constroi um androide com a mesma tecnoligia dele.
ep 71 - "Sarek" - o pai de Spock está de volta, e está com uma doença degenerativa

Ano 4:

ep 79 - "Remember Me" - Pessoas vão sumindo e ninguém se lembra delas, somente a doutora Crusher
ep 82 - "Future Imperfect" - Riker contrai uma doença, e acorda 15 anos depois, quando já é capitão da Enterprise

Ano 5:

ep 107 e 108 - "Unification parte 1 e 2" - Spock está tentando reunificar os vulcanos e os romulanos, que descendem de um mesmo povo.
ep 118 - "Cause and Effect" - a Enterprise entra num lapso temporal em que é destruída repetidas vezes
ep 125 - "The Inner Light" - Picard desmaia e acorda num planeta desconhecido, onde vive uma vida inteira como lider da comunidade

Ano 6:

ep 130 - "Relics" - A Enterprise encontra os destroços de uma nave há muito desaparecida. No sistema de teleporte da nava, um padrão ainda está intacto: o do Sr. Scotty
ep 144 - "Starship Mine" - Uma espécie de "Duro de Matar" na Enterprise. Picard tem que lidar com terroristas

Ano 7:

ep 163 - "Parallels" - Worf passa por uma anomalia, que o leva a um universo paralelo
ep 164 - "The Pegasus" - Riker encontra seu antigo capitão, que quer procurar sua nave que tinha uma tecnologia proibida pela Federação
ep 177 e 178 - "All Good Things" - último episódio da série. Picard fica pulando entre 3 épocas da sua vida, sem qualquer controle, e não sabe porque.


Além desses episódios avulsos, existem sagas completas que foram divididas entre todos os anos. As principais são:

Os Borgs

ep 42 - "Q-Who?" - ano 2
ep 74 - "The Best of Both Worlds - parte 1" - ano 3
ep 75 - "The Best of Both Worlds - parte 2" - ano 4
ep 123 - "I, Borg" - ano 5
ep 152 - "Descent - parte 1" - ano 6
ep 153 - "Descent - parte 2" - ano 7

A Honra do Worf

ep 20 - "Heart of Glory" - ano 1
ep 46 - "The Emissary" - ano 2
ep 65 - "Sins of the Father" - ano 3
ep 77 - "Brothers" - ano 4
ep 100 - "Redemption - parte 1" - ano 4
ep 101 - "Redemption - parte 2" - ano 5
ep 142 e 143 - "Birthright - parte 1 e 2" - ano 6


Pra terminar, uma curiosidade: você ouve músicas em mp3? Tem algum MP3 Player, ou Ipod, ou vê vídeos na internet? Pois saiba que você deve tudo isso a Jornada nas Estrelas – A Nova Geração. Quando a série foi ao ar no final dos anos 80, começo dos 90, num dos episódios, Data dizia ao computador da nave o que ele queria ouvir, diversas músicas ao mesmo tempo. Um dos engenheiros da Apple, fã de carteirinha da série, se deparou com esta cena e pensou numa forma de guardar músicas no computador para ouvir a hora que quisesse.

Os CDs já existiam, e já traziam as músicas em formato de dados, mas esses dados eram muito complexos e pesados, e os computadores da época não tinham poder de processamento suficiente para executar um arquivo daquele tamanho, e nem capacidade em disco pra armazenar dezenas ou centenas de músicas. Então ele pensou que poderia “simplificar” o arquivo, se retirasse todos os sons inaudíveis ao ouvido humano, e compactasse o que sobrava. Ele tinha acabado de inventar o mp3 e o Quicktime, o primeiro software capaz de fazer isso. Mais uma vez, a ficção de Jornada inspirou a vida real, como vem acontecendo há mais de 40 anos!

Assim, se você é um fã fervoroso da série clássica, dê uma chance à Nova Geração. Ela não tem a química Kirk-Spock-McCoy, mas isso realmente não faz falta. Como a série clássica, tem bons e maus episódios, com a vantagem de ter tido mais de o dobro de episódios da original, o que lhe rendeu mais momentos memoráveis.

E se você já é um assíduo espectador da Nova Geração, veja de novo sempre que puder. Cada vez é como a primeira. Ou ainda melhor.

Roosevelt Garcia

Colecionador, fã de Irwin Allen e de Gene Roddenberry, e leitor assíduo no manual de instruções do kit do Júpiter 2, da Polar Lights!

Confira o promo de 1987, clicando no link abaixo:

Star Trek: The Next Generation 1987 Promo

Crédito das Imagens: Divulgação Paramount

Um comentário:

  1. Concordo com o Roosevelt. É necessário manter a mente aberta para assistir a Jornada nas Estrelas - A Nova Geração! Os roteiros são mesmo fantásticos e nem se sente falta do tripé formado por Kirk, Spock e McCoy. Simplesmente imperdível!

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